05 fevereiro 2007

Diários, maio de 1148

As corujas me chamam, por detrás dessas paredes desgastadas. Posso me mover, mas só um pouco. Posso me arrastar por sobre a poeira até a boca da cabana, e talvez até mais além. Mas não posso correr. Estou fraco e cansado demais para fazê-lo.

Numa taverna de beira de estrada, eu pensei em passar uma noite agradável com uma bebida e uma mulher barata. Fui bem recebido quando entrei, com a mão na espada como se preferisse lutar a beber. Um grupo de desconhecidos, não muito distantes do fogo, pediram que me juntasse a eles, e riram comigo, enquanto enchiam minha caneca. Eu saí com eles alegremente, segurando a mão gélida de uma de suas mulheres.

Eles me jogaram contra a parede do beco. Tomaram-me a espada, quebrando-a em dez pedaços. Eles riram quando meus músculos anestesiados pelo álcool me jogaram desastradamente sobre eles, e então arrancaram minha carne, expondo minhas veias. Eu tentei gritar. Eu deveria ter morrido, mas enquanto os demônios se embrenhavam novamente nas sombras, as mãos de um deles me levantavam. Eu vi a misericórdia na face de um monstro, e Deus me livre, eu me alegro com isso.

Ela me escondeu numa cabana a milhas de distância da cidade. Estou fraco demais para partir – meu desamparo se reflete em seus olhos quando ela vem me ver. Ela me toca como alguém faria com uma criança tola, me diz coisas sombrias sobre mim. Por vezes ela me traz uma lebre, ou algumas perdizes. O bastante para me manter vivo, apesar de não sentir fome. Mas ó Deus, a minha sede, a minha sede...

Meu sangue escorre em minhas lágrimas, pingando sobre a poeira.


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