O Basilisco era chamado o rei das serpentes, tendo na cabeça, para confirmar essa realeza, uma crista em forma de coroa. Supunha-se que nascia do ovo de um galo, chocado por sapos ou serpentes.
Haviam várias espécies de basilisco. Uma delas queimava todo aquele que dela se aproximava. Uma segunda assemelhava-se à cabeça da Medusa e sua vista causava tal horror que provocava a morte imediata. No Ricardo III de Shakespeare, Lady Ana, em resposta ao galanteio de Ricardo acerca de seus olhos, retruca: “Fossem eles os do basilisco, para te ferir de morte!”
O naturalista romano Plínio, assim descreve o basilisco: “Não arrasta o corpo, como as outras serpentes, por meio de uma flexão múltipla, mas avança firme e ereto. Mata os arbustos, não somente pelo contato, mas respirando sobre eles e fende as rochas, tal é o poder maligno que nele existe.” Acreditava-se que se o basilisco fosse morto pela lança de um cavaleiro, o poder do seu veneno, conduzido através da arma, matava não somente o cavaleiro, mas até o cavalo. Luciano faz alusão a esse fato nos versos:
Ele matou o basilisco em vão,
Deixando-o inerte no arenoso chão.
Corre o veneno através da lança
E mata o mouro, quando a mão alcança.
Deixando-o inerte no arenoso chão.
Corre o veneno através da lança
E mata o mouro, quando a mão alcança.
Os poderes maravilhosos dos basiliscos são atestados por vários sábios, como Galeno, Aviceno, Scaliger e outros. Por vezes, algum deles duvidava de uma parte da lenda, mas admitia o resto. Johston, um médico letrado, observa sensatamente: “Seria difícil de acreditar que ele mata com o olhar, pois, assim sendo, quem o teria visto e continuado vivo para contar o caso?” O digno sábio não sabia que aqueles que iam caçar o basilisco dessa espécie levavam consigo um espelho, que fazia refletir a horrível imagem sobre o original, fazendo o basilisco matar-se com sua própria arma.
Mas quem seria capaz de atacar esse terrível monstro? Há um velho ditado segundo o qual “tudo tem seu inimigo” e o basilisco intimidava-se diante da doninha. Por mais amedrontador que fosse o aspecto da serpente, a doninha não se preocupava e entrava na luta ousadamente. Quando mordida, retirava-se por algum tempo para ingerir a arruda, que era a única planta que o basilisco não fazia murchar, e voltava a atacar com redobrado vigor e coragem, não deixando o inimigo enquanto não o estendia morto no chão. O monstro, como se consciente da estranha maneira pela qual vinha ao mundo, votava também extrema antipatia ao galo e estava sujeito a exalar o último suspiro tão logo ouvisse o canto daquela ave.
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Somos os Filhos da Escuridão. Nós, os vampiros, somos feitos para ser o flagelo do homem, como é a peste. Somos parte das provas e das tribulações desse mundo; bebemos sangue e matamos para a glória de algum deus qualquer que deseja testar suas criaturas humanas.
Houve um tempo em que eu interpretava isso tudo como uma provação, um caminho de martírio. Não era mais humano, e devia andar sobre os espinhos para me redimir por isso ou tornar, na melhor das hipóteses, meu caminho menos monstruoso. Eu me ocultava em minhas próprias sombras, tomando apenas o sangue dos maus. Procurava o criminoso e o assassino, e os mandava rumo ao Inferno pela minha sobrevivência.
Até que um dia, ele apareceu.
Parecia que sabia exatamente o que dizer para atingir no âmago da natureza e do orgulho de qualquer um. Sua eloqüência era um deslumbre; a voz, um comando. E ele conseguia dar poesia a tudo isso.
“Banqueteamo-nos quando e onde desejamos e cruelmente, e banqueteamo-nos com o inocente e com aqueles mais dotados de beleza e riquezas. Mas não nos gabamos do que fazemos para o mundo, nem nos gabamos uns para os outros.
Somos uma maldição das sombras; somos um segredo. Somos eternos.”
Não gosto de regras; ao menos, não daquelas me fazem com que me sinta preso. Proibido de usar meus talentos para deslumbrar os mortais. Proibido de enganá-los com meus truques. Proibido de procurar o conforto da companhia deles. Proibido de entrar nos lugares de luz. Eu não gosto disso.
Então, a Coroa Dourada passou a ser minha insígnia, e aquele demônio trajado de sangue carmesim, o meu Príncipe. Eu seria o seu Cavaleiro, lutaria por sua causa e protegeria sua coroa em nome de todos nós.
Já não vasculhava a mente procurando um crime que justificasse o meu banquete predatório. Já não praticava a requintada arte de beber sem fazer a vítima sofrer. Já não protegia o infeliz mortal do horror de meu rosto, minhas mãos desesperadas, minhas presas.

Eu passei pelos Ritos.
Nuvens silenciosas adensavam-se, enroscavam-se e passeavam pelo céu que escurecia. A chuva chegou, seu rugido suave abafado pelos gritos das crianças loucas que dançavam, pelo crepitar do fogo e pelo rufar dos tambores. Ouvi a chuva cair. Recebi-a, a chuva prateada caindo em mim como a bênção dos paraísos escuros, as águas batismais dos condenados.
“Criatura esplêndida. E pensar que algum deus o criou da mesma forma como criou os meninos que você destruiu hoje, os corpos perfeitos que você entregou ao fogo.”
Sempre me senti forte com seus elogios, por mais sombrios que fossem. Sua voz concedia um toque mágico às palavras...
Van Eiyck, o velho demônio de Gdańsk. Ele chegou aos desastres da era moderna com a beleza imaculada. Às vezes, ele parece perverso e até odioso, sentado naquele trono escuro. Sabe de muitas coisas. Não superestima os poderes dos Antigos, que, fugindo da invisibilidade social de muitos séculos, agora circulam entre nós com total desenvoltura. Onde ele realmente mora, e quando vai aparecer, ninguém sabe. Mas quando ele me olha, seus olhos negros são firmes e passivos. São como os olhos de um puck demoníaco, olhos que vêem o Inferno e o refletem para quem ousar encará-los.
Meu Príncipe é meu senhor, e eu sou seu Cavaleiro das Trevas, o basilisco venenoso estendido a seus pés. Seu cetro é minha bandeira e suas ordens meu consolo para matar. Eu o sirvo por compactuar com sua causa; nem por mais, nem por menos. Nas longas noites que ainda estão por vir, a lei dos selvagens será o regente e nós seus arautos eternos. Eu sou o próprio mal.
E o mal, pode estar em qualquer parte.

* Lembrai-vos, Jesus misericordioso, Que fui a causa de vosso caminho. - Dias da Ira
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